Insustentabilidade nos transportes

A mobilidade e o desenvolvimento do setor de transportes tendem a ser cada vez mais significativos para o crescimento econômico do país. Espera-se como consequência a sobrecarga na estrutura viária e a elevação das emissões de gases do efeito estufa. Devemos ampliar a discussão sobre o modelo em que o setor de transporte do país está fundamentado, por estar ambientalmente incorreto, socialmente injusto e economicamente inviável. Todos os dias, em São Paulo, são registrados cerca de 500 nascimentos e 800 licenciamentos de veículos. Em 2002, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média de filhos era de 2,26 filhos por mulher fértil. Em capitais como Curitiba há 1,6 carros por pessoa; em São Paulo, 1,85 e em Belo Horizonte, 2,13.
Em média, atualmente, as pessoas têm mais carros do que filhos nessas capitais. O planejamento das cidades brasileiras ainda é deficiente, gerando concentração de pessoas e elevada demanda por transporte viário. Em 2002, pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já registrava que o custo gerado pelo tempo gasto em congestionamentos chegava a R$ 266 milhões/ano e cada pessoa gastava cerca de um ano de vida em congestionamentos. As restrições ambientais para os veículos em países desenvolvidos fizeram com que a indústria automobilística migrasse sua produção para países de menor inspeção veicular ambiental e com amplo potencial de mercado.

Paralelamente, a competitividade em escala mundial demanda mais velocidade produtiva, que pressupõe uma maior frequência de entregas e um aumento da participação de veículos de carga na composição do tráfego. A matriz de transportes de carga brasileira é composta em 62% pelo modal rodoviário, 20% pelo ferroviário e 18% pelo aquaviário. Já países de grande extensão territorial, como Estados Unidos, China e Canadá, movimentam mais por transporte ferroviário e aquaviário. A situação piora quando enfrentamos a falta de planejamento e investimento público na infraestrutura viária nacional.

O Brasil tem 1,6 milhão quilômetros de malha rodoviária, sendo 211 mil pavimentados (70% estão em condição regular de tráfego). Os investimentos em infraestrutura de transportes no país correspondem a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB), quando deveriam ficar entre 5% e 6% como em países do Primeiro Mundo. A frota brasileira de caminhões de carga apresenta idade média dos veículos acima de 20 anos, sendo que 20% correspondem às máquinas com idade superior a 30 anos. Devemos passar a estimular programas de reciclagem de veículos e renovação de frota como em países europeus, nos EUA, no México e na Argentina. Eles contam com unidades de tratamento de veículos fora de uso vinculadas aos centros de pesquisa em reparação e segurança viária, além de incentivos governamentais.

Os automóveis são responsáveis por 20% das emissões de gases do efeito estufa e 70% das emissões referentes ao setor de transporte. A matriz energética dos veículos é outro ponto a se destacar, pois os tão comentados veículos elétricos não se apresentam como a alternativa mais viável ao nosso país. O etanol, além de quase neutralizar as emissões de gás carbônico, evitaria gastos com a troca da infraestrutura de abastecimento e seria a energia renovável mais condizente. Com as projeções otimistas para a economia em cenários de crescimento, o setor de produção de combustíveis e o de transportes deve experimentar novos rumos tecnológicos e de investimentos públicos.

A renovação da frota e reciclagem de veículos, a minimização das emissões com alternativas coletivas de trânsito e combustíveis menos poluentes, programas governamentais de controle, investimento e incentivo, além das necessárias soluções de mobilidade urbana, serão peça-chave não apenas na qualidade de vida das cidades, mas para a integridade dos direitos sociais, da preservação ambiental e do desenvolvimento econômico sustentável do país.

Comentário a parte: Já faltam estradas para tantos veículos! Mais um exemplo do nosso modelo insustentável de viver. Bere Adams.

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